Sete em cada dez universitários brasileiros estudam em instituições particulares. Mas, por medo de assumir uma dívida nesse momento difícil, tem muita gente adiando o sonho da faculdade.
Dois jovens em busca do futuro. Rodrigo trabalha como designer. Carolina é gerente de banco. Mesmo com o salário no fim do mês, eles não conseguiram remar contra a maré.
“Eu tive que trancar a minha faculdade no meio do ano passado. Estava difícil de continuar arcando com o valor, que era bem alto pro curso que eu fazia”, relata Rodrigo Moreira da Silva, designer.
"Eu pagava R$ 860 todo mês, subiu pra R$ 1.200", conta Ana Carolina Zimmerle, gerente de banco.
Por coincidência, o Rodrigo e a Carolina faziam o mesmo curso - publicidade – em uma universidade particular e faltavam só dois semestres pra pegar o diploma.
“Estou um pouco frustrada, porque eu esperava que eu fosse me formar esse ano”, lamenta Ana Carolina.
O sonho de toda universidade é ter a sala cheia de alunos. E o sonho de todo aluno - claro - é sair de lá com um diploma, uma carreira. Mas a crise, o desemprego, a falta de dinheiro pra pagar a mensalidade estão fazendo muita gente desistir desse projeto, e as salas vão ficando cada vez mais vazias.
A entidade que representa as instituições de ensino superior particulares do estado de São Paulo calcula que houve uma queda de 15% no número matriculas de novos alunos, comparando com 2015. No Rio, essa queda foi ainda maior: 25%.
“O aluno preserva muito o seu nome. Ele não quer ter uma dívida executada junto à instituição; então, ele preferiu não se matricular”, conta João Roberto Moreira Alves, Sindicato dos Estabelecimentos do Ensino Superior-RJ.
Uma universidade particular - uma das mais tradicionais do Rio - deixou de receber mais de quatro mil novos alunos em 2016.
“Acho que isso vai começar a ter reflexos a partir desse ano. Ao longo desse ano letivo e dos próximos vamos observar uma certa dificuldade na captação de estudantes”, diz Paulo Alcântara Gomes, pró-reitor de graduação da universidade Cândido Mendes.
“É um investimento caro, e se ele fizer pelo Fies, depois ele tem que ressarcir. Um curso de 4 anos, pagar em 12 anos. Quer dizer é um planejamento de longo prazo que no momento parece arriscado para alguns estudantes”, explica Nival Nunes de Almeida, professor e ex-reitor da Uerj.
O Ministério da Educação (MEC) afirma que vai continuar investindo em programas de acesso à universidade.
“Nós oferecemos no ano passado 311 mil vagas. Nós oferecemos esse ano 250 mil vagas no primeiro semestre. Vamos oferecer mais, devemos ficar no mesmo nível do ano passado. E o processo ainda está em andamento, só vai se encerrar no fim de junho”, afirma Luiz Cláudio Costa, secretário executivo do MEC.
