Após quatro dias de julgamento no Fórum de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, os sete jurados consideraram o goleiro Bruno Fernandes de Souza culpado pela morte de Eliza Samudio. O ex-capitão do Flamengo foi condenado a 22 anos e três meses, sendo 17 anos e seis meses em regime fechado. Ele poderá pedir relaxamento da pena após cumprir 2/5 desse total, que equivalem a sete anos. Como já ficou preso por dois anos e oito meses, pode pleitear cumprir o restante da pena em liberdade em quatro anos, a partir de 2017. A ex-mulher de Bruno, Dayanne do Carmo, foi considerada inocente e não deve mais nada à Justiça.
A decisão foi divulgada pela juíza Marixa Fabiane, que também presidiu os trabalhos do julgamento de Macarrão, em novembro de 2012. Bruno foi condenado em todos os crimes pelos quais foi acusado: cárcere privado, sequestro e homicídio triplamente qualificado.
O último dia de julgamento foi marcado por tentativas. Primeiro, da defesa dos acusados. A expectativa era que os trabalhos começassem diretamente com os debates entre defesa e acusação. Porém, Thiago Lenoir pediu que Dayanne fosse novamente interrogada pela magistrada para esclarecer melhor os pontos da entrega do bebê ao Coxinha - outro réu no caso que será julgado em maio deste ano.
Após responder algumas perguntas, o acusado Bruno Fernandes também teve o direito de mudar ou contar melhor sua versão dos fatos. Ele, no entanto, respondeu apenas: “Sim, eu sabia e imaginava que ela morreria”, após questionamento de Lúcio Adolfo. Logo depois, o atleta finalizou. “Doutor, por favor, eu não quero responder mais nenhuma pergunta.”
Com isso, a juíza deu início aos debates. O promotor de Justiça Henry Vasconcelos teve a palavra e iniciou seu trabalho. Ele contou detalhes do crime, mostrando nos autos as provas. Vasconcelos, inclusive, utilizou bastante do processo, consultando a bilhetagem telefônica e a todo momento mostrou o conteúdo aos jurados.
O promotor mostrou também que o telefone de Eliza, que sempre utilizou muito seu celular, ficou inativo entre os dias 4 e 9 de junho de 2010. Henry disse também de trocas de cartas entre Macarrão e o acusado. “Bruno é o articulador, está no comando, na direção de tudo. Ele ligou para o caseiro e pediu que ele preparasse o cativeiro de Eliza”, afirmou.
Em momento tenso do debate, Henry criticou toda a defesa do réu Bruno. “A defesa dele é uma prostituta. Cada hora vai para um lado. Não estou dizendo desses advogados que aqui estão, mas toda a defesa que esteve neste caso”, explicou.
O promotor também afirmou aos jurados que Bruno é mentiroso. “É mais fácil tirar um dente sem anestesia da boca dele do que conseguir a verdade”, afirmou. Ele ainda afirmou, também com base no processo, que o atleta tem envolvimento com o narcotráfico.
Após duas horas e meia de uma forte fala comandada pela acusação, a juíza determinou intervalo para almoço. Depois, a fala foi passada para a defesa. Os trabalhos recomeçaram com Francisco Simim. O defesor de Dayanne pouco falou e passou para Thiago Lenoir, que também pouco acrescentou. O advogado de Bruno, Lúcio Adolfo, então assumiu o centro do plenário. Durante aproximadamente duas horas o defensor lutou a favor da inocência do goleiro. A estratégia era clara: desqualificar a acusação.
Dentre várias coisas, Adolfo falou da falta de peças nos autos, que, segundo ele, foram encontradas posteriormente. Disse ainda que o caso é midiático e afirmou que a imprensa tratou de julgar o ex-atleta e ainda acusou a promotoria de acordo no caso de Macarrão.
Em momento forte, Lúcio disse que o promotor estava enganado ao envolver Bruno com o narcotráfico e possível uso de cocaína. “O promotor disse isso, mas não sabe que no Flamengo tem exame antidoping duas vezes por semana, como ele não seria pego?” Lúcio ainda desafiou. “Futebol é coisa para homem”, afirmou.
O caso Bruno
Eliza Samudio desapareceu no dia 4 de junho de 2010 após ter saído do Rio de Janeiro para ir a Minas Gerais a convite de Bruno. Vinte dias depois a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. O filho de Eliza, então com quatro meses, teria sido levado pela mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues. O menino foi achado posteriormente na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves.
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